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No 3º ACExperience, Rick Chesther ensina a ‘suportar o processo’ antes do sucesso
26/04/2024 17:59 em Redação - Rádio Palermo

Palestras do ex-vendedor de água e de Zé Maria ‘Da Gente’ e Silvana Araújo trouxeram insights sobre como os obstáculos do caminho podem fortalecer o empreendedor

 

A terceira edição do ACExperience, evento organizado pela ACE-Guarulhos no auditório do Eniac, nesta quinta-feira, 25/04, trouxe verdadeiras lições de vida de empreendedores que passaram por muitos obstáculos antes de alcançar o sucesso. “O mérito não está em você chegar lá, mas sim em suportar o processo. É ter gestão das emoções. Como você lida com suas frustrações durante a caminhada? É isso o que vai fazer a diferença”, afirmou o ex-vendedor de água da Praia de Copacabana Rick Chesther, que hoje se orgulha de ter palestrado até na Universidade de Harvard e ter vendido 1 milhão de cópias do livro que conta a sua trajetória.

 

ACExperience é um evento que coloca Guarulhos no circuito dos grandes palestrantes do País – nas edições anteriores passaram pelo palco do evento da ACE nomes como Roberto Shinyashiki e Geraldo Rufino. “É uma alegria poder trazer palestrantes desse nível para Guarulhos. Desde que assumi a presidência da ACE-Guarulhos, defendo que o empreendedor de Guarulhos merece um circuito de palestras de nível internacional. E é o nosso papel fazer isso!”, explicou o presidente da ACE, Silvio Alves, que sempre faz questão de completar o time de palestrantes de cada ACExperience com empreendedores locais, que também têm muito a compartilhar.

 

Nesta terceira edição, além da palestra “Pega a Visão”, de Rick Chesther, houve apresentações de Zé Maria “Da Gente”, dono da rede de supermercados DaGente, com a palestra “Do plantio à colheita”, e de Silvana Araújo, diretora de Relações Tributárias da ACE, com a palestra “Como fazer seu chefe virar seu sócio”. O evento lotou as dependências do Eniac e contou com a presença do vice-prefeito Professor Jesus, do vereador Geleia Protetor e do vice-presidente da RA3 da Facesp, Francisco Quintino.

 

Fome de vencer

 

A primeira palestra da noite foi de Zé Maria “Da Gente”. Ex-cortador de cana no nordeste brasileiro, veio para Guarulhos aos 14 anos, analfabeto, mas com muita vontade de vencer e superar a realidade de fome, dele e dos pais e 10 irmãos. “Eu cresci passando fome. Cortava cana para conseguir levar algo para a mesa. Muitas vezes levava menos do que o necessário. Como discutir com o patrão que contava o peso a menos da cana se ele carregava um revólver na cintura?”, relembrou.

 

Zé Maria ressaltou a importância da família em sua formação. “A gente não tinha estudo, moradia decente, comida. Mas meus pais sempre ensinaram a ter caráter, o valor da honestidade. Diziam que não importava o quanto faltasse, mas que nunca deveríamos pegar nada de ninguém”, apontou.

 

Uma passagem com seu pai, inclusive, é o ponto alto de sua apresentação. Ele relembra a ocasião em que foram obrigados a ingerir comida “com bicho” para não morrerem de fome. “Meu pai dizia que era vitamina. E orou com a gente, dizendo que nada era maior do que Deus. E que um dia a família teria uma vida melhor”, disse.

 

Depois de anos de sofrimento e obstáculos, Zé Maria veio para Guarulhos, aos 14 anos. Trabalhou como empacotador, balconista, padeiro e tinha o sonho de ser gerente. Mas o mercado faliu e ele se viu diante da oportunidade de empreender. Fazia o pão na sala da casa modesta e vendia na garagem. Voltou a estudar aos 17 anos, pois tinha vergonha de pedir para outros escreverem as cartas que enviava para a mãe. 

 

Mercadinho Soares cresceu, virou “DaGente”, e na primeira vez que o pai esteve no local para uma compra, Zé Maria disse para ele pegar tudo o que queria. Na hora de passar no caixa, o pai queria pagar pela mercadoria, mas o filho não deixou. E relembrou os tempos de dificuldade. “Eu perguntei se ele lembrava do dia em que orou com a gente e disse que Deus um dia daria uma vida melhor para a família. E disse que esse dia tinha chegado”, disse, emocionado. O pai passou mal de tanta emoção.

 

Zé Maria finalizou dizendo que o empreendedor não pode desistir. “Siga firme. Às vezes falta só um pouquinho para o sucesso chegar. Tenha fome de vencer”, completou.

 

Ninguém faz nada sozinho

 

A segunda palestra da noite foi da diretora de Relações Tributárias da ACE-Guarulhos, Silvana Araújo. Antes de assumir a função na ACE e se tornar referência na área contábil, como a primeira presidente da Associação das Empresas Contábeis de Guarulhos e como diretora regional do Sescon-SP, ela precisou ultrapassar obstáculos.

 

Os primeiros, dentro de casa. “Fui criada sob a visão machista de que lugar de mulher não era trabalhando, mas sim cuidando apenas do lar”, lembrou. “Eu tinha o sonho de empreender desde criança, mas meu pai dizia que mulher não precisava estudar tanto, já que não precisariatrabalhar. Isso incomodava muito e sempre pensei: ‘vou quebrar isso’”.

 

Aos 14 anos decidiu buscar sua independência. Venceu a resistência da família e começou a atuar em uma loja de autopeçasAprendeu tudo sobre carro, algo inimaginável para uma mulher naquela época.

 

Depois, assumiu cargo de período integral em uma transportadora. Começou como auxiliar de escritório e foi crescendo. Com salário melhor, conseguiu uma escola melhor. Cresceu profissionalmente e decidiu empreender com o noivoTiveram locadora, restaurante, danceteria, sorveteria.

 

A vida ia bem e ela achou que seria sempre assim: planejar e fazer. Mas a vida impôs perdas e desafios significativos. “Foi um choque de realidade. Eu tinha acabado de me formar na faculdade de contabilidade. Enfrentei uma crise no casamento e problemas de saúde dos pais e irmãos. Tive que assumir o papel de pilar da família. E não era uma opção desistir”, afirmou.

 

Partiu para procurar emprego na área. E encontrou oportunidade no caos. Um trabalho sem registro e sem remuneração, em um escritório precário. Resolveu apostar, pois percebeu que o patrão precisava de ajuda. Deu tão certo que acabou levando clientes novos, convenceu o chefe a mudar de escritório e virou sócia.

 

Um antigo colega de faculdade apresentou a ACE e um grupo de contabilistas que se reuniam periodicamente. Acabou por se juntar com ele e outro profissional antes de fundarem a AECG. A lição que tirou de tudo o que viveu na vida pessoal e profissional? A de que ninguém é tão bom individualmente que não possa melhorar ao se unir a outros.

 

 

O sucesso após 40 anos de sofrido anonimato

 

Em 2018 ele estava irritado com um desaforo que ouviu nas areias da Praia de Copacabana, onde ganhava a vida vendendo água. Um turista reclamava da situação no Brasil e, após conversa rápida com o ambulante negro e pobre, soltou: “Quem esse negrinho pensa que é para falar sobre crise?”.

 

Rick Chesther chegou em seu barraco, ligou a câmera do celular e gravou um vídeo no qual ensina como ter lucro vendendo água na praia. Ele encerra a mensagem dizendo que se “vender água não é para você? Então a crise não está no País, mas dentro de você”.

 

Ele tinha 40 anos e já havia passado fome e todas as privações imagináveis, desde a infância no interior de Minas Gerais. Mas o vídeo viralizou e caiu nas graças do empresário Flavio Augusto, criador, entre outros negócios, da rede de escolas de idiomas Wise Up.

 

Ele, que mora nos EUA, me achou pela internet e pediu para visitá-lo quando viesse ao Brasil. Foi a oportunidade da minha vida. Meu pai disse: nas suas condições sociais e com a sua idade, esta pode ser a última oportunidade. “E eu abracei as orientações do Flavio e cheguei a palestrar na Universidade de Harvard”.

 

Ele já vendeu milhões de cópias de dois livros – “Pega a Visão” e “A Favela Venceu” – e influencia pessoas do mundo todo. “Vocês imaginam um cara que nasceu na miséria, filho de um braçal e de uma dona de casa, que passou fome e foi servente de pedreiro. Que não sabia o que era carne, pois disseram um dia que isso não era para ele. E que hoje é o garoto propaganda de gigantes como o Santander e Amazon. 

 

Conseguem imaginar o que teria acontecido se eu tivesse acreditado nos ‘nãos’ que me deram durante a vida? E se eu tivesse desisto?

 

A gestão das emoções e a reação às adversidades é apontada por Chesther como o principal atributo de sua trajetória. “Guardem essas cinco atitudes para a vida: identifique seu principal dom e passe a vida lapidando; a vida é semeadura e colheita, mas, acima de tudo, cultivo; busque conhecimento sempre; joguem em equipe (fazer com é melhor do que fazer para)aprendam sobre vendas”, aponta.

 

No fim do evento, Chesther foi homenageado com a Comenda do Mérito Empreendedor. “Valorize quem proporciona o extraordinário. Silvio parou o que estava fazendo para fazer esse evento para vocês”, completou.

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